Nádia deveria morrer!

“Apressada Nádia caminhava pela avenida mais larga da cidade em busca de abrigo. Atravessava de um lado para o outro e olhava em cada comércio disponível na esperança de que estivessem abertos. Seus pés latejavam de dor e cada uma das feridas espalhadas por seu corpo, agora transpareciam o sangue pelas roupas molhadas.

A chuva caía incessantemente. Não havia ninguém na rua além de Nádia. O relógio da igreja, distante de onde estava, marcou meia-noite. Nádia pôde ouvir os sinos ao longe, abafados pelo barulho da chuva caindo.

Desamparada, molhada, assustada e com o corpo recusando os próximos movimentos, Nádia sucumbiu e caiu deitada ali mesmo na calçada. Encolhida e abraçando os joelhos, chorava desesperadamente sentindo cada centímetro do seu corpo dolorido e cheio de hematomas recentes ser espancado pela chuva que caía sobre ela. Grande novidade seria? Os últimos dias foram repletos de dor, nada havia mudado ainda. Haveria esperanças?

Nádia cerrou os olhos e desejou não estar ali. Desejou que a força da água, que escorria pela calçada descendo a avenida, à levasse embora, a levasse para longe. Mas, tragédia seria. Nádia subira toda a avenida fugindo de Lucios. Se a corrente de água a levasse embora, certamente a jogaria para dentro daquele quarto imundo do motel Blacker, onde esteve durante os últimos dias. Ao menos, chegaria lá morta. Lucios teria menos trabalho a fazer.”

Marcela apareceu em frente à filha e tomando o livro de suas mãos o fechou bruscamente. Ana não havia sequer levantado para ir ao banheiro durante todo o dia. Estava envolvida demais com a leitura. Nem ao menos atendeu ao chamado do próprio corpo que gritava de fome.

– Coma! Levante! Vá fazer alguma coisa. – Marcela jogou um prato com o almoço sobre as mãos de Ana que ainda estavam na mesma posição com a qual segurara o livro.

– Está chegando a melhor parte do livro mãe. Por favor!

– Você já leu este livro mais de 10 vezes Ana. Já conhece cada vírgula. Se alimente e inicie uma nova história. Quantas vezes mais vai reviver essa história sofrida e negar para si mesma suas próprias necessidades? Quanto tempo mais vai perder com a mesma história, de novo e de novo e de novo? Existem tantos livros novos e maravilhosos para conhecer. Vamos! Vá em frente.

Ana relutou. Mas, cedeu. Se alimentou rapidamente e retornou ao sofá onde estava. Sentada na mesma posição continuou a leitura.

Página após página, Ana sentia as angústias de Nádia como se as estivesse vivendo em si. Cada lágrima era compartilhada e cada sofrimento era intenso.

O que Ana não compreendia, e o que sua mãe tentará lhe dizer, era que ao ler ou viver repetidas vezes a mesma história, Ana se limitava à dor, ao sofrimento, às angustias. Porque na vida, assim como na literatura as vezes é preciso mudar o ritmo, o lugar, a história, o livro. É preciso permitir novas experiências, novas histórias, uma nova vida. A mágica está no novo, na surpresa. A alegria está em ir sempre em frente e deixar o passado, as mágoas, as dores, sofrimentos e desilusões para trás.

Ana não compreendia. Mas, naquela ocasião, Nádia deveria morrer!

Autora: Thais Paolucci

 

 

 


QUER UMA DICA LEGAL?

Compre nas melhores lojas online através do site Cupom Válido.

O Cupom Válido é um site que reúne promoções e cupons para quem ama descontos, assim como eu!

É muito fácil de utilizar, nem precisa de cadastro. Você entra no site, procura a loja que deseja verifica quais cupons estão disponíveis para essa loja, copia o código e cola lá no seu carrinho de compras. O site disponibiliza também links diretos com descontos incríveis em alguns produtos.