Imediatismo social e a exaustão

A humanidade desde sempre buscou meios de se comunicar. Nos primórdios, a comunicação através de sons e gestos bastava, mas era ineficaz quando à distância. A fumaça se tornou um bom meio e durante muito tempo foi utilizada entre os povos. Mensageiros, viajantes, cartas… As possibilidades cresceram junto ao desenvolvimento das civilizações sempre em busca de meios mais rápidos.

Um salto foi dado com a inveção do telefone. Não parou por aí. Em menos de um século ele se tornou portátil, agregou funcionalidades visuais e hoje, nos permite chamadas em vídeo, mensagens instantâneas. Tudo para suprir a necessidade de imediatismo na comunicação à distância.

A liberdade em poder se comunicar com qualquer pessoa, independende do local do globo em que se encontre, é muito admirada e utilizada por todos. Essa busca resultou de e resulta em milhares de outras inovações constantes. Muitas ideias concebidas e executas, trabalhos gerados e perdidos, mão de obra adicionada e substituída. A vida, como sempre, em constante movimento.

Surgem, porém, algumas questões importantes, que ao que parece se prefere deixar de lado. Existe a necessidade de comunicação e existe a sede pelo imediatismo comunicacional. Até aonde vai a real necessidade e até em qual ponto a comunicação necessita ser imediata?

Anteriormente era comum aguardar meses, depois semanas, outrora dias, para envio da mensagem e retorno da resposta. Com o avanço dos meios, o tempo encurtou a tal modo que já não é possível enviar uma mensagem instantânea e não obter a resposta imediata. Aguardar pela resposta, ainda que por poucos minutos, horas ou dias, se tornou sinônimo de tortura e insatisfação social, passível de abalar relações e qualificar atendimentos ao consumidor de forma positiva ou negativa. A liberdade em se comunicar, por vezes destrói a liberdade em não fazê-lo e afronta até mesmo a privacidade, quando setinhas azuis e um status de “online” não te permitem escolher responder mais tarde ou não responder sem que isto seja estampado e julgado.

A situação nos leva a refletir também sobre a necessidade de imediatismo presente no ser humano. Essa necessidade não se faz presente apenas no que diz respeito à comunicação. E sim, em todo o dia a dia. Como se tem lidado com esta questão, muito mais psicológica do que material, no homem? Qual a atenção destinada ao equilíbrio emocional e saúde psicologica? Por vezes, me parece que estas não são questões tão importantes quanto os avanços tecnológicos que ainda somos capazes de criar e experienciar.

O homem tem sido levado à exaustão mental constantemente, apenas por um pouco mais de inovação. As pessoas, mais do que nunca, são quantificadas e qualificadas por aquilo que são capazes de produzir. O valor que podem agregar. Mais do que isso, do que são capazes de produzir “imediatamente”.

Algumas reflexões são tão necessárias quanto o avanço tecnológico ou a comunicação instantânea. É preciso olhar para dentro e avaliar o quanto tanto imediatismo tem destruído as pessoas e pode resultar no fim da civilização.

A exaustão é mental, física, psicológica e relacional. Nunca os índices de depressão e suícidio estiveram tão altos. O homem tem se destruído por desejos que nem sempre consegue alcançar. É nítida a falta de inteligência para gestão emocional em gerações atuais e passadas. Isso nos amedronta diante das futuras.

Qual o melhor caminho a traçar? A luta contra o imediatismo certamente é o começo deste caminho. Ela pode começar com simples atitudes. Não visualizar notificações desesperadamente, não responder mensagens instantaneamente, não cobrar o imediato do outro, buscar ajuda psicológica para lidar com as causas destas necessidades.

Assim como qualquer outro assunto, a internet traz uma infinidade de conteúdos, verídicos e profundos ou não, representa a possibilidade de se obter informação e em cabeças pensantes criar questionamentos o suficiente para gerar incomodo e busca pela mudança.

Como você tem se comportado nesta era imediatista? Consegue perceber a necessidade de desacelerar? O que tem feito para isso? Vamos gerar discussões saudáveis sobre o tema e pensar no quanto inovações que deveriam ser saudáveis tem sido transformadas em armas devido ao mal uso. Uma cabeça pensante é a melhor ferramenta que se pode ter. Imediata, eficaz, expansiva, completa. Quando se une a outras, nos traz aonde chegamos. Mas pode nos levar para um lugar muito melhor.

Autora: Thais Paolucci