Se eu quiser ficar?

Escrever, às vezes, é cansativo. Sim, possuir criatividade e imaginação para viajar por todo o universo, tocar as estrelas e ir além do infinito, sem nem ao menos se levantar da cadeira, é realmente especial e maravilhoso. Mas, essa mesma capacidade criativa nos devora.

De repente, somos parte de uma nova história. Somos um outro alguém, vários alguém. Somos todos e não sabemos mais quem somos. Corremos por ruas desconhecidas. Desviamos das chamas de dragões. Podemos voar, cantar, dançar, festejar e amar tão intensamente quanto existimos. Sentimos na pele todas as emoções das personagens que criamos. Vivenciamos e nos alegramos com o verdadeiro amor e choramos com as despedidas. Muito mais que um mero leitor. Somos parte de cada protagonista.

O mais difícil é voltar ao mundo real.

Mesmo com as perdas confusões e guerras, a escrita ainda é sedutora. Ela possui o poder da realização. Possui a doçura do amor, da amizade, o valor da lealdade e a esperança. A escrita nos permite arrepios e prazer. Sempre nos dá um refúgio. Um lugar para existir, onde podemos ser quem desejarmos.

Sombrio, quando suas histórias são tudo o que te mantém vivo. Voltar à realidade é um verdadeiro martírio.

Controlar sua mente e obrigá-la a compreender e conciliar tantas personalidades, inúmeras possibilidades e diversas vidas, é extremamente penoso.

Incomodo, lutar contra o desejo de ficar em um mundo que foi concebido para seu próprio júbilo. Difícil, abandonar o que agora já é você.

Escrever é assim: a união do deleite com a ira. Talvez seja um ressarcimento e um castigo. uma reparação concedida a nós por Aquele que nos obrigou a existir e nos presenteou com uma realidade diferente do que desejávamos. Mas, também é castigo por querermos sempre mais. O agrado é poder criar e a pena é ter sempre de voltar.

Autora: Thais Paolucci