Valores invertidos

Sabe o que eu quero? Sabe o que eu preciso?

Pra começar quero me mudar, ir para uma cidadezinha onde ainda exista paz.

Uma praça central, ou várias pracinhas bem calmas, onde eu possa ir caminhando e chegar em poucos minutos, sem medo de assalto, sem medo da violência. Uma praça aconchegante com um lindo coreto onde toque músicas estilo Alpha FM.

Quero cruzar a cidade e em poucas ruas estar de frente a lindas montanhas, sentir o cheiro do ar puro, olhar a natureza e me sentir parte disso.

Sair para namorar sob a luz do luar, ver o pôr do sol, fazer piqueniques e também ver o sol nascer.

Estar a poucas horas do mar, me banhar em águas de lindas cachoeiras, mergulhar em rios de águas limpas e navegar para ilhas tranquilas vez ou outra.

Quero trabalhar por prazer no tempo em que sentir vontade, quero ter o suficiente para viver, sem desejar ter o suficiente para ostentar.

Quero boas companhias, fazer um churrasco para os amigos, receber a família e comemorar a virada do ano com comidas deliciosas preparadas com carinho por cada uma das mães e avós. Quero ver os familiares jogando truco e depois todos juntos brincando de adivinhar a mimica.

Quero ter filhos e poder ensinar a eles o verdadeiro sentido da vida. Quero que cresçam valorizando o amor e as verdadeiras amizades. Que possam brincar na rua, que prefiram pega-pega à TV e corre-cotia a videogames. Que conversem com os coleguinhas sobre seus brinquedos ao invés de falar sobre redes sociais, que conversem pessoalmente ao invés de postar homenagens no Facebook.

Acho que querer isso não é querer demais, é querer o justo. Ir a pé ao mercadinho do bairro comprar pães para o chá da tarde, ou deitar em uma rede para a cesta depois do almoço… Não é possível que isso tenha se tornado impossível.

Estou cansada dessa vida agitada. De acordar engolindo o café para poder começar a trabalhar, de almoçar em frente ao computador e ir embora respondendo e-mails no celular. De estar sempre conectada a um aparelho eletrônico e manter contato com as pessoas apenas por eles. Para que visitar quem mora longe se você pode conversar e ver online? Logo inventarão um jeito de saciar as necessidades fisiológicas com a tecnologia, e aí tudo o que vou perguntar será: pra que viver?

Tudo está perdendo o sentido e o valor, dos momentos, aos sentimos e às pessoas. Os valores estão invertidos, a vida passa despercebida e tudo o que sabemos fazer é empurrar os dias à espera de dias melhores que nunca virão, porque não somos capazes de dar um passo atrás, desfazer os nós, abandonar a tecnologia, abandonar o que for preciso, para viver de verdade.

Ah, que saudade de ser criança na época em que fui criança. Que saudade de ouvir as histórias dos meus avós… por que os avós de hoje já quase não as têm. Que vontade de fugir daqui, de sair daqui e ir para onde tiver de ir… viver… sair para viver.

Autora: Thais Paolucci