Você já se sentiu vazio?
Essa semana começou esquisita…
No domingo eu estava decidida. Cheia de sonhos que eu até podia tocar. Repleta de certezas sobre o que queria ou não.
Como em todos os outros dias, não vi o tempo passar e não consegui fazer nada que almejei.
A segunda-feira começou preguiçosa, mas atarefada. Normal para meus dias. No entanto, algo amanheceu diferente dentro de mim. Não havia mais sentimento. Já não existia vontade de viver. Talvez eu apenas tenha acordado sem esperanças de que as coisas pudessem mudar.
Estar em companhia de alguém estava indiferente. Eu me senti sozinha e isso não foi ruim como sempre imaginei que seria. Saber que outras pessoas existiam ou apareceriam não fez diferença.
Consegui respirar e sentir os minutos passarem ao invés de somente ouvir o tic-tac dos ponteiros do relógio. Fiz o que havia programado para aquele dia sem conseguir me culpar pelo que não pôde ser feito. A culpa que sempre carreguei não me encontrou nesta segunda-feira vazia.
Me senti vazia. Sem emoções. Sem sentimentos. Não pude imaginar nem ao menos viver em nenhuma de minhas histórias, durante todo o dia. Vivi o presente. Senti que o presente era real pela primeira e decepcionante vez em muitos anos.
Na segunda-feira eu estive viva.
Tão viva que tive a certeza de estar morta.
Terça-feira acordei com a esperança retornando de sua viagem. Era Deus me devolvendo a arte de sonhar acordada. Porém, eu ainda estava tão seca e vazia que não pude entrar novamente em minhas histórias para me esquecer que estou, na realidade, morta no mundo dos vivos.
Senti as horas passarem. Tudo deu certo neste dia, após este chacoalhão da vida. Os compromissos foram concluídos. Me vi livre da culpa do silêncio com alguém importante. Me refiz em emoções esperando ao adentrar minha gaiola ser recebida com sentimento.
Ah, mas terça foi um recuo em vão.
Já a quarta começou normal…
Tudo dando perfeitamente errado, fugindo do planejado.
Os sentimentos estão de volta e a tortura foi oficialmente reiniciada. Seria quarta a nova segunda?
Agora, não estou vazia, mas, também não estou completa. Sou uma massa que ocupa lugar no universo. Sou tão insignificante que estar aqui ou não ainda faria da terra, terra e do mar, mar.
Carrego comigo cápsulas de rancor. Trago dúvidas que transbordam meu ser. Sonhos, que se debatem contra as paredes de minha mente e gritam desesperados implorando que eu os liberte. Para que libertá-los? Não, não tenha pena deles. Eles são loucos e assassinos. Me mataram quando eu tinha vida em algum lugar. Agora só me deixarão viver dentro deles. O problema é que eles não são reais. Jamais serão. Eu estou matando a fé. A única coisa que os alimentava está morrendo. Fé e esperança eram o que me faziam correr em diversos mundos, enquanto esperava que estes prisioneiros se tornassem realidade. Enquanto eu era a prisioneira e não via o tempo passar.
Se é para morrer, então seremos todos como zumbis. Eu e meus sonhos.
Autora: Thais Paolucci